Do 8 ao 80: A Pressa de Ser

Ai, a Era da pressa.
Da produtividade, do propósito, da pertença. Tudo precisa de acontecer agora. O cinema ficou mais rápido, as músicas são feitas para colar, não para ficar. Os vídeos vêm com legendas, porque já não temos tempo, ou paciência, para ouvir.

E com esta velocidade vem uma inquietação constante. Somos empurrados a procurar o melhor, a sermos felizes o tempo todo, a analisar cada comportamento, cada sentimento, cada relação. Queremos entender tudo. Curar tudo. Resolver tudo. Agora.

Sou a favor do autoconhecimento. Acredito que devemos olhar para dentro, reconhecer o que queremos mudar, perceber quem somos. Mas hoje, parece que essa busca foi sequestrada pelas redes sociais. O TikTok tornou-se psicólogo, o Instagram analisa relações tóxicas, e os testes de personalidade prometem dizer-nos quem somos, e quem devemos evitar.

É exaustivo. E, acima de tudo, desumanizante.

Tudo o que nos causa desconforto é descartável. Tudo o que dói é sinal de alerta. Tudo o que não entendemos tem de ser explicado, justificado, resolvido.

Mas esquecemo-nos de que o desconforto também é crescimento. Que há emoções que só precisam de ser sentidas. Que há dores que não precisam de palco — e silêncios que não pedem explicação.
Há coisas que não têm de ser “curadas”. Têm apenas de ser atravessadas.

Confesso: eu também me perco. Nas comparações, nas certezas rápidas, no impulso de querer respostas para tudo. Também quero compreender, também quero melhorar. Mas não porque estou obcecada com a cura. Faço-o porque acredito que tentar vale a pena, por mim, pelos outros, pelas relações que me importam.

E é isso que mais me inquieta: o quanto nos estamos a esquecer do outro. O quanto nos fechamos no nosso processo, nos nossos traumas, nas nossas dores e deixamos de ver quem está à nossa frente.

Vivemos no extremo. Ou fugimos de tudo, ou analisamos tudo. Ou evitamos a dor a todo o custo, ou transformamos cada emoção numa sessão de terapia.

Será que existe um meio-termo? Um espaço entre o 8 e o 80?

Um lugar onde o autoconhecimento não exclui o mistério. Onde a análise não anula o sentir. Onde a dor pode existir sem se tornar identidade.
Onde possamos, simplesmente, ser.

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